Nascido no interior de Minas Gerais, no final dos anos 90, em uma família de músicos da Zona da Mata mineira, porção que integra o território ancestral de seu povo, os Puri. Suas produções artísticas compreendem diversos tipos de linguagem, transitando principalmente pela literatura, música, artes visuais e o teatro, investindo no experimentalismo e em temas que instrumentalizam o conhecimento histórico de sua formação superior e sua origem indígena.
Tendo crescido em um ambiente favorável à produção artística — na história de sua família materna há cantores e compositores (mãe e tio), instrumentistas (tios, avô, tios-avôs, bisavô) —, chegou a aprender a tocar violão e a participar desde cedo de festivais de música e concursos literários, mas seguiu outro rumo ao ingressar a universidade, em setembro de 2017. Em meados de 2019, voltou a escrever poesias e contos, assinando ora como Alfredo, um semi-heterônimo, ora como Isaías Borja, seu nome ocidental, principalmente pelo portal acadêmico HH: Humanidades em Rede. Entre 2019 e 2022, editou e publicou obras de modo independente, como os livros flores caídas e Natal, osso e dente, sob a alcunha de Alfredo, integrando coleções literárias de conto e poesia do Selo Off Flip (2021). Iniciou suas produções com novo nome artístico e étnico Xipu Puri em sua página no Instagram, com a publicação dos livros O PRIMEIRO SER QUE SENTIU (2021) e O PASSARINHO QUE VIU O VENTO (2022) — em Kwaytikindo (Puri) e Português — e em edições da revista Cemana de 22 da editora Toma Aí Um Poema. Por sua notória atuação no âmbito literário, foi incluído no mapeamento de escritores independentes realizado pela Biblioteca Murilo Rubião da Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP).
O primeiro álbum de Xipu Puri, taheantah tri, foi lançado em dezembro de 2022, unindo música e literatura em uma produção experimental, introspectiva e sensorial. O disco incorpora elementos de spoken word, orquestra e música tradicional indígena, constituindo uma produção que materializa a resistência, num exercício de experimentação artística e reivindicação estética e linguística, com texturas acústicas, eletrônicas e elementos percussivos que evocam uma temporalidade em espiral. Pindobeat foi lançado em setembro de 2023, sendo precedido pelos singles Gûyra'Ī , canção sobre um amor pindorâmico, e Volta Pra Tua Terra. O segundo álbum de Xipu Puri retoma e sofistica a proposta de taheantah tri entregando uma produção mais dinâmica, integrando batidas marcadas, percussões e camadas eletrônicas em faixas mais concisas, mantendo o veio político e memorialístico da obra anterior. A fusão entre batida contemporânea e referências indígenas acontece de forma mais fluida, traduzindo o conceito de seu álbum, na reivindicação de um “beat pindorâmico” — um som com raízes indígenas, combinando elementos eletrônicos, acústicos e tradicionais. A faixa Raízes (Pindobeat, 2023) foi produzida para o espetáculo Siaburu, estreado em junho de 2023 em Évora, Portugal, inspirado na dramaturgia homônima, que conta com autoria de Xipu Puri junto a Dani Mara. O livro integra a Caixa de Dramaturgias Indígenas (Outra Margem, N-1 Edições), lançada durante a terceira edição do Teatro e Povos Indígenas (TePI), em São Paulo. Produções de Xipu Puri integram a trilha sonora do espetáculo Ideias para adiar o fim do mundo, estrelado por Yumo Apurinã, sob a direção de João Bernardo Caldeira. A peça, inspirada na obra de Ailton Krenak, teve sua pré-estreia na Aldeia Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro e estreou em novembro de 2024, no teatro Futuros – Arte e Tecnologia, integrando posteriormente a programação da terceira edição do Festival de Teatro Amir Haddad (jul. 2025), do Centro de Artes UFF (set. 2025) e do Espaço Cultural Sérgio Porto (out. 2025).
Junto a seu companheiro Abi Poty, fundou em 2023 a produtora MIRIPONAN, que atua no âmbito da economia criativa com enfoque no empreendedorismo social por meio da criação e desenvolvimento de projetos artísticos, culturais e educacionais, mobilizando tradições e tecnologias contemporâneas em ações voltadas à valorização da diversidade e decolonialidade. Pela MIRIPONAN realizou a exposição KAAPORÃ (2024), no Centro Cultural da Diversidade, em Itaim Bibi, São Paulo, assinando o projeto expositivo, edição de textos e a autoria de uma obra, "Encantado Puri". Atuou na produção do vídeo da canção Eu Abri o Caminho (2025), de Canario Negro. Com o experimento cênico Wirapu’ru, Xipu Puri e Abi Poty integraram uma edição do Programa de Contação de Histórias do MCI, com a obra autobiográfica do artista Potyguara. A obra se inscreve em estudos que culminarão na produção do filme de Abi Poty e o texto dramatúrgico da performance no MCI foi escrito por Xipu Puri em torno de memórias familiares do neto do xamã Uirapuru. Desenvolve diversos projetos criativos, como a produção executiva e direção musical de INTERMUNDOS, carro-chefe da MIRIPONAN.
Mestre em Letras: Estudos da Linguagem (2024) e Bacharel em História (2022) pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), ingressou em 2025 a Especialização em Arte: Crítica e Curadoria pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Atuou em instituições como Instituto Fernando Morais (2018), Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Mariana (2018) e Museu das Culturas Indígenas (2024-2025). Foi bolsista CNPq de Iniciação Científica no Departamento de História do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da UFOP, onde cursou a graduação e pesquisou sobre a implementação do ensino de histórias e culturas indígenas nos cursos de formação em História das universidades públicas do Brasil, além de ter desenvolvido uma monografia em torno da tese do "marco temporal de ocupação" e sua implicação sobre Povos Indígenas em retomada cultural ou etnogênese. Em outubro de 2024 defendeu sua dissertação de mestrado intitulada “A palavra indígena sempre existiu”: a História e Literatura Puri, vinculada à Linha de Pesquisa "Literatura, Memória e Cultura" do Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos da Linguagem da UFOP. Fundou, em 2022, o coletivo Parentes, articulação indígena na Universidade Federal de Ouro Preto. Desenvolve projetos de promoção de histórias e culturas indígenas com diversos públicos, por meio da arte-educação e formação de professores, tendo atuado junto a instituições educacionais públicas e privadas, como a be.Living. Já ministrou aulas em cursos de educação continuada que contaram com a parceria de instituições indígenas e indigenistas como a APOINME (Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo), o CIMI (Conselho Indigenista Missionário) e no âmbito do Programa de Formação do Museu das Culturas Indígenas (MCI), instituição onde realizou estágio externo durante o mestrado. Atualmente, presta serviço como Assistente de Produção Cultural ao MCI, em São Paulo, capital, onde mora desde 2023.
DISCOGRAFIA
Singles
XA MOON
2024
VOLTA PRA
TUA TERRA
2023
GÛYRA'Ī
2023
AMBONAM
2022
Extended Plays
PINDOBEAT
2023
TAHEANTAH TRI
2022
TRILHA SONORA
IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO
YUMO APURINA E JOÃO BERNARDO CALDEIRA
SIABURU
DANI MARA
ARTES VISUAIS
Arte Digital
MÃOS SUJAS
2025
Estudos com Jenipapo.
Arte digital registro fotográfico digital.
TAHEANTA
2023
A (des)construção do figurativo torna a obra uma representação do dimensionamento da relação entre um humano e seu ancestral no veio do tempo.
Arte digital. Autorretrato fotográfico com espelhamento e composição de fundo.
OLHO DO TEMPO
2025
Fabulações
Arte digital.
FEBRE BRASÍLICA
2023
Colagem digital.
Exposição coletiva que tensiona valores que estão nas raízes do Brasil, com obras em distintas linguagens e suportes que reúnem memórias e conhecimentos fundamentados em uma relação orgânica com o mundo, a partir de um senso de pertencimento com a natureza. A exposição centrada em cosmopercepções de artistas indígenas e afrodescendentes, marcados historicamente por experiências de diáspora e epistemicídio, traz a busca pelo fim dos deslocamentos e desencantamentos que marcaram o nascimento do Brasil.
ENCANTADO PURI
Fibras de jupati. 2024.
KAAPORÃ
ARTISTAS
ABI POTY
ANABYA
DJATSY MOTARA
JULIA DUARTE
XIPU PURI
PROJETO EXPOSITIVO
ABI POTY & XIPU PURI
EDIÇÃO DE TEXTOS
XIPU PURI
EXPOGRAFIA
ABI POTY
PRODUÇÃO EXECUTIVA
JULIA DUARTE
REALIZAÇÃO
PRODUTORA MIRIPONAN
APOIO
CENTRO CULTURAL DA DIVERSIDADE
TEKWARAXÏ
KAMUSI
descansa guerreiro
no coco da sapucaia
( trançado por djatsy motara )
LITERATURA
O ânimo da floresta e o tempo da experiência, tão sufocados historicamente, tornam a se fazer visíveis. Nestes tempos em que a palavra indígena ecoa, como o espírito, testemunhamos com todos os sentidos as mensagens da terra, as mágicas e as políticas, que se atravessam, se fazem sentir através do corpo indígena que pisa a cena como pisa o chão. Esta caixa compila 11 dramaturgias criadas nos últimos anos por artistas indígenas, ou em co-autoria entre indígenas e parceiros não indígenas, reunindo-os de várias regiões do Brasil, além de Chile e Argentina. São obras que, para além de posicionar a afirmação da própria existência, possibilitam o exercício da autoficção e trazem à tona questões marcantes em sua contemporaneidade, como os decorrentes debates sobre a retomada de territórios e identidades de gênero.
Do chão batido debulho cânto, do ventre da terra vejo vozes vindo e avoando nas asas do Siaburu. Do avesso do espírito as raízes tocam o interior do tempo. Germina uma dança... A dramaturgia em Siaburu é uma vivência em dança-teatro com poesias que movem no corpo o que se cose e o que se come... Território não morre, território não some. Siaburu demarca as raízes que a colonização tentou apagar. O corpo-território retoma as memórias da terra, o mover da ancestralidade pela dança inscrita no canto dos pássaros.
AUDIOVISUAL
Marco do início do surgimento da produtora MIRIPONAN, Intermundos, nasceu do encontro entre os artistas indígenas Abi Poty e Xipu Puri, com o intuito de desde seus campos de atuação, produzir um álbum visual sobre seus pertencimentos e vivências. O projeto, entretando, expandiu-se para o de uma produção maior, reunindo trajetórias de outros artistas, com eixo narrativo em torno das distintas realidades compreendidas pelas existências indígenas em seus territórios, na diáspora ou em migrações contemporâneas, tendo como esteio a palavra como veio da memória e do conhecimento. Intermundos conta com direção artística do artista Potyguara e direção musical do produtor Puri.
"NASCER DE NOVO" (Intermundos, 2023)
Direção: Abi Poty
Produção musical: Xipu Puri
Operação de Câmera: Jade Iasmin.
Texto, Narração e performance: Abi Poty
"KA'A" (Intermundos, 2024)
Direção: Abi Poty
Música e performance: Djatsy Motara
Produção musical, operação de câmera e edição: Xipu Puri
Créditos - Fotografia de Capa: Leandro Karaí Mirim - Acervo do MCI.